quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Entendendo a diferença entre PIB e o IDH

 
Uma das ferramentas utilizadas na gestão do meio ambiente é a estatística.

Conhecer os diversos medidores e suas aplicações é fator determinante para a aplicação de políticas justas e ambientalmente equilibradas. Até meados dos anos 80, o único medidor utilizado e aceito internacionalmente como indicador da condição socioeconômica de um país era o PIB, que mede o resultado de toda riqueza produzida. Ainda utilizado no Brasil, se subdivide em outros, dependendo do resultado que se pretende. A utilização desse índice gerou distorções extremas porque não considera o indivíduo, a região, escolaridade e diferenças de renda, entre outros, como se a riqueza, por si só, representasse a qualidade de vida de uma comunidade.


Os economistas clássicos do início do século XIX tinham a percepção de que a economia era orientada para o bem coletivo, que as oportunidades surgidas com a nova organização produtiva seriam para todos, eram os filósofos economistas. No final desse mesmo período um novo pensamento passa a dominar, o neoclássico. No entanto, sem saber o que fazer com as necessidades humanas não atendidas até aquele momento, esse pensamento torna-se refém de um novo processo produtivo, a linha de montagem.
O pensamento de que a riqueza produzida pertencia a todos predomina ainda no século XXI. Há quem acredite que a qualidade de vida e o bem-estar da coletividade é medida pelo resultado da riqueza produzida, ou seja, pelo Produto Interno Bruto (PIB), um equívoco grave. A riqueza produzida por um país está longe de ser a expressão da realidade de seus nacionais e, mesmo passados dois séculos de entendimento equivocado e misérias, ainda não aprendemos a lição e nesse contexto eis que surge a globalização, com sua expropriação de bens coletivos, como as reservas naturais e a ocupação de extensas áreas para monocultura mecanizada. E os Estados insistem em considerar o PIB como medidor de bem-estar de seu povo.

Em 1990, o primeiro relatório de desenvolvimento humano do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) passa a propagar o conceito de desenvolvimento humano como plataforma para a sustentabilidade. Por esse novo conceito a geração de riquezas passa a ser importante para a conquista do bem-estar; a renda, portanto, passa a ser um meio de se conseguir qualidade de vida e não um fim, assim como a falta de renda representa a privação de capacidades, inclusive a capacidade de defender seus próprios interesses.

Esse novo olhar sobre o homem coincide com a criação de um novo medidor de qualidade de vida, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Este índice não substitui o PIB, é complementar e em certos momentos também é falho, mas representa um avanço. A mudança de percepção por si só já indica um viés. Enquanto o PIB coloca a riqueza como parâmetro para a conquista de bem-estar, o IDH avalia o tamanho da qualidade de vida e bem-estar coletivo que essa riqueza proporciona: que tipo de saúde a comunidade possui, qual a qualidade e acesso à educação, que tipo de alimentação essa comunidade pode comprar. O IDH não redistribui renda, mas indica um novo momento para as sociedades, as ricas inclusive, porque não basta ganhar bem, mas gastar bem. Os investimentos devem ser direcionados para a construção de conhecimento, para garantir o bem-estar coletivo, a qualidade de vida e essas conquistas apenas são possíveis com a justa distribuição da riqueza produzida.
Todos os problemas que enfrentamos decorrem da injusta distribuição do poder de escolha e isso nada tem a ver com concorrência de mercado; refiro-me às escolhas fundamentadas no conhecimento, no "ser" alguém capacitado para recusar algo que não lhe represente valor autêntico. É o ser se contrapondo ao ter. Talvez valores artificiais ainda perdurem por mais um ou dois séculos, ainda é cedo para avaliar o dano provocado pelo conceito clássico de avaliar a produção da vida adotado a partir da revolução industrial e as consequências desse modo de produção, mas é importante falar a respeito, é importante conhecer a origem de um problema para corrigir a rota que queremos seguir.

Fonte Zn Revista:
Por: RN Sammy

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